sexta-feira, 13 de maio de 2016

Avanti

Jogo futebol já tem pouco mais de um ano, mas tem apenas algumas semanas que estou firmada em uma posição: ala direita fundo, quando no esquema 2x2.

Resumindo: zagueira. 

Minha função é impedir que as atacantes do outro time façam gols, ou tenham oportunidades de fazer finalizações.

No último jogo eu estava empolgada. Chegava entrando, marcando, correndo, fazendo o possível para cobrir quem estivesse no meu setor, para que não passasse de jeito nenhum. E consegui fazer isso até que bem. Só que aconteceu algo que me fez pensar...

Numa dessas marcações na atacante do outro time, consegui não deixa-la chutar ou cruzar, e afastei a bola para fora com um último toque meu, e lá foi ela pra escanteio. Fiquei feliz por ter conseguido impedir a jogada da menina, até que poucos segundos depois, o time delas cobrou o escanteio e fizeram um gol.

Na hora veio uma sensação de culpa, afinal, foi de uma jogada minha que o escanteio foi criado. Mas depois o professor disse que é assim mesmo, que o importante é a jogada na hora. Naquele momento meu objetivo era simplesmente fazer com que não houvesse chute ao gol, e isso foi conseguido. A jogada em seguida, são outros quinhentos.

Ainda em quadra, me veio a sensação de que eu precisava escrever sobre isso. Precisava entender de vez, que sim, é assim que acontece no jogo de futebol, e é assim que acontece na vida!

De novo, eu estava fazendo tudo "certo". Segui o roteiro rigorosamente como o professor ensinou e  fiz tudo como tinha que ser feito. E em seguida, em um movimento inesperado, todo o esforço não foi suficiente para impedir um derradeiro gol do adversário. No final das contas, perdemos de 1 a zero.

Acertar o posicionamento, cumprir o objetivo...nem sempre isso é suficiente para que se ganhe uma partida. Um jogo de futebol é imprevisível. A vida é imprevisível. No momento que a gente acha que está fazendo a coisa certa, de repente vem a vida, dando uma de Alemanha sobre você e te metendo 7 gols, que  nem dá pra saber da onde vieram.

Porém, apesar de tudo, depois que a gente toma um gol, a gente volta pro meio do campo com a bola no pé. É isso....
A vida te  dribla e te goleia o tempo todo, mas a cada gol desse, a bola volta pro jogo. Temos a vantagem de recomeçar e repensar as estratégias usadas até ali. Sempre temos a chance de começar de novo, com calma, revendo a tática, reconsiderando posições, fazendo substituições, enfim, descobrindo os erros que  levaram a tomar na cabeça e tentar corrigí-los.

O jogo só acaba quando termina, e toda hora é a hora da virada. O controle emocional é tão ou mais importante do que técnicas em si e o próprio talento. De que adianta deter mil habilidades, se no 1 a zero, achar que não dá mais pra ganhar?  Porém, de que adianta acreditar na vitória quando se está perdendo, e não ter aprendido nada a cada gol que tomou para conseguir alcançar o adversário?

Entendo cada dia mais, que viver o presente, é o melhor a se fazer, tanto na vida quanto no jogo. Não precisa se ter medo de um time, talvez por que já tenha perdido pra ele antes, porque cada derrota te alavanca pra frente, e o próximo jogo pode ser diferente, depende de ter se esforçado para aprender as lições que toda derrota traz. Assim como já ter ganhando de um time e ir confiante demais pro próximo jogo contra ele, faz mal. Tudo muda o tempo todo no mundo...o que importa é o momento presente, sempre!
Sempre dá pra recomeçar. To aqui pra provar. Sobrevivi a maior goleada que tive na vida, depois sobrevivi a outra derrota de campeonato e sigo em frente!

O meu time caiu pra segunda divisão e voltou mais forte, e não to falando do Palmeiras...

Talentos

terça-feira, 3 de maio de 2016

Sobre Pietra e outras pedras preciosas

Ontem eu estava preguiçosamente assistindo à minha novela, enrolada num cobertor bem quentinho.
A novela acabou e o controle remoto estava inatingível ao meio raio de alcance. Começou um jornal, e eu fui assistindo, até chegar uma notícia que me fez pensar em você, Pipinha.

Era algo sobre a comemoração de aniversário de um ano da princesa Charlotte. Essa menina linda, ganhou muitos presentes, entre eles, um chocalho de ouro branco incrustado com diamantes, rubis e safiras.



Minha Pipinha, não se engane. Olhando assim, parece que isso é algo muito legal. Mas não é não sabia? Até perguntei pra minha mãe, o que uma criança iria fazer com isso, já que brincar não pode, corre o risco de engolir uma pedrinha dessas, é muito perigoso... e ela respondeu:

-"Talvez os pais irão guardar de lembrança!"

Ah não Pipinha!!! Sabe as lembranças que quero guardar dos meus filhos que um dia vou ter, e de você?

Daquele teu sapato emporcalhado com lama na sola, naquele dia em que você foi marcando pegadas sujas no chão. 

Quero lembrar daquele teu vestido branco de renda, manchado da tinta que dava cores aos teus pensamentos e imaginação. 

Guardo na memória aquela tua cicatriz no joelho, ganhada no mesmo dia em que resolveu tirar as rodinhas da tua bicicleta da Barbie.

Gosto daquela blusa amarela rasgada de tanto que subiu em árvore e se enroscou nos galhos pra pegar fruta no pé.

Lembro daquela imagem do teu sorriso com janela e boca suja de sorvete de chocolate. Mão lambuzada e grudenta. Abraço pegajoso, e beijo com hálito doce manchando minha bochecha de marrom.

Gosto daquele ursinho teu, sem olho coitado, de tanto que foi arrastado pela casa e pela rua, que te acompanhava quando fazia exame de sangue e dividia teu sono e teu cobertor. Falando em cobertor, aquele teu cheirava a salgadinho e leite derramado, tinha pelo da sua cachorra e migalha de biscoito. Ah esse cobertor sim, é uma boa lembrança para se guardar.

Minha Pipinha, quero que você consiga aproveitar essa vida, da forma mais simples possível.

Que você não se assuste com a imensidão do mar, e caso isso aconteça, que tenha sempre uma mão dada com a tua para encorajar a entrada.
Que não se aflija quando a água gelada bater nos teus pequenos pézinhos, porque depois que a gente se joga, o frio passa, e consegue brincar e aproveitar a tarde toda num banho salgado. Quando o frio chegar, estenda tua toalha na areia, deita, e espere o sol fazer o trabalho dele. Ele vai te esquentar de novo. Ele sempre estará lá, mesmo que teu dia seja escuro na tua cabeça, lá fora, sempre haverá luz.

Faça teu castelo de areia minha menina, mas não fique triste se a água vier de repente, e destruir a base da tua construção. Isso acontecerá muitas vezes na tua vida toda. Você construirá muitas coisas e irá perdê-las, mas isso é assim mesmo, e a areia é infinita, você pode começar a construir de novo quando quiser. Se estiver cansada, acredite, sempre haverá alguém disposto a te ajudar, e cada castelo destruído, te dá experiência para construir outro mais bonito. Mais forte. Mais seguro. Mais longe da água. 

Sobe naquela gangorra minha menina, e perceba que a vida flui exatamente desse jeito. Momentos lá embaixo, momentos lá em cima. Essa é rota da vida. Quando estiver embaixo, precisará de todas as forças de tuas perninhas para voltar pra cima. Quando estiver em cima, aproveite a visão e a paisagem. Viva o momento presente, se segure no teu apoio para não cair. Você tem muitos apoios, e não esqueça, eu sou um deles quando precisar.

Tenha coragem minha princesa. Sobe a escada daquele escorregador, e quando chegar lá em cima, não tenha medo, não desista. A vida precisa de coragem. Precisa que a gente se jogue nela, precisa que a gente corra riscos, precisa que a gente enfrente limitações, muitas vezes, criadas por nós mesmos. Vem minha linda! Te espero logo ali embaixo.

Corre pra aquele balanço vazio minha criança, senta, segura com tuas pequeninas mãos na corrente. Teus pés não alcançam o chão ainda, então precisará de alguém para te empurrar. Você terá muitas pessoas, mas pode me chamar. Vou te impulsionar com cuidado, apoiando minha mão nas tuas costinhas, e ver feliz, enquanto você vai e volta. A vida é assim minha Pipinha, a gente vai, mas sempre pode voltar. Escolha teus caminhos, e se achar que precisa voltar, volte. Se não souber, me peça que eu te busco. Se achar que precisa ir, vá, se não souber ir, me chame que te levo. Te cuido minha Pipinha!

Pula na piscina de bolinha, e desbrave todo o caminho possível. Veja as cores que o mundo trás. Faça farra minha querida. Joga as bolinhas pra cima, jogue em mim. Aproveita cada segundo. Se esconda lá no fundo, apareça pulando, que nem peixinho no lago!

Veja menina, que o melhor da vida, são as coisas tão mais simples. Promete pra mim que vai caçar borboleta e soprar bolha de sabão no parque? Promete que vai comer besteira vendo desenho abraçado com alguém que você ama? Promete que vai agradecer ao papai do céu pela vida simples que você tem, todos os dias? Promete que vai tomar banho de chuva e correr com os bracinhos abertos e só voltar pra casa quando o cabelo estiver pingando encharcado? Promete que vai assistir ao nascer do sol e a um por do sol? Promete que vai dar carinho a um bichinho de rua e doar agasalho para um menino de rua também? Promete que vai acreditar em papai noel e acordar ansiosa para procurar o presente que ele deixou? Promete que vai deixar uma joaninha andar na sua mão? Promete que nunca vai deixar de acreditar num sonho e que vai ser feliz sem colocar tua felicidade na mão de ninguém?

Seja sempre pura e ingênua de coração minha pequena, que o dinheiro e poder não te iludam os olhos. O que realmente importa é o tudo tão mais simples. Ah minha querida Pipinha... não se engane: esse brinquedo da princesa não tem graça nenhuma.
Legal é aquele seu chocalho feito com alguns feijões dentro de uma garrafa vazia de xampu, que tua mãe, tão criativamente inventou. Esse brinquedo, é exclusivo, foi confeccionado especialmente para você, incrustado com uma joia invísivel aos olhos, amor. 
Amor materno. O maior de todos. Mais valioso que todo o ouro amarelo ou branco, mais reluzente que diamante, mais vermelho que o mais caro rubi e mais inestimável que safira.

Eu te amo Pietra, minha prima, minha Pedra Preciosa!