quarta-feira, 26 de abril de 2017

Cuide bem do seu amor...

Há alguns dias atrás, em um nada raro momento de descoodernação motora, acabei derrubando meu celular no chão. Ao pegá-lo de volta, apesar da tela intacta, logo percebi a gravidade da situação: o coitado estava em seus últimos suspiros, funcionando apenas meia tela, totalmente hemiparésico.

Para piorar tudo, em uma outra situação eu já o  havia derrubado na privada, situação ao qual sobreviveu com sequelas, após dois meses de coma. Dessa vez não teve como se salvar: o pobrezinho havia de fato morrido! Eu teria de comprar outro, e assim o fiz, logo no dia seguinte.

Em posse do novo celular em mãos, prometi a mim mesma, cuidar como nunca havia cuidado de um celular:
 1 - Nada de colocá-lo na beirada de mesas, apenas ao centro!!!!
2 - Copos cheios próximos a ele, nem pensar!!!!
3 - Em hipótese alguma, colocar no chão, e muito menos carregar a bateria com o fio esticado longe da tomada.
4 - Terminamente proibido será andar com ele na rua para não dar sopa para marginais!!
5 - Fora de cogitação será levá-lo a shows e bares em geral, para novamente não ser surrupiado sorrateiramente.

 Após menos de quinze dias transcorridos da compra, atravessei a rua mandando audio para amigas e  cheguei em casa e o deixei carregando na ponta da mesa. Aonde os gatos quase não passam, e as pessoas quase não trombam.

Foi passando por ele, uma segunda vez  que percebi...

Percebi como tudo começa com promessas, com intenção de correção de erros, com zelo...e de repente, quando sentimos a sensação de posse do objeto, todo o cuidado inicial vai acabando, minando...vai tudo voltando ao comum.
Me dei conta disso após perceber que eu havia feito a mesma coisa com itens além do celular, aos quais eu também tinha expectativas de cuidados.

1 -  Expectativa: Comprar lindos sapatos novos e jurar jamais  colocar  qualquer outro em cima dele dentro da sapateira. 
Realidade: Usar os novos duas vezes e depois amontoá-lo apenas em qualquer lugar que coubesse.

2 - Expectativa: Comprar um óculos de grau novo, retirar do rosto a noite, e guardá-lo dentro da caixinha ao qual ele veio, além de levá-la dentro da bolsa, para momentos em que eu quisesse tirá-lo e precisasse guardá-lo em segurança!
Realidade: Perceber que o  óculos novo adquirido há duas semanas, foram limpados hoje mesmo com a camiseta que eu usava, e não havia  o menor sinal da caixinha na bolsa! Aliás, cadê essa bendita caixa?

3 - Expectativa: Comprar um violão e uma super capa protetora para prevenir quedas e fornecer muita proteção!
Realidade: Esquecer o violão no porta mala do carro durante três dias seguidos.

4 - Expectativa: Cuidar do aparelho auditivo adquirido há pouco tempo, pela benção e graça de Deus, como se fosse um filho!!!
Realidade: Esquecê-lo um dia, em cima da mesa, local ao qual os gatinhos adoram subir e derrubar coisas ao chão, além  de já ter perdido 3 baterias, por te-las tirado e não guardado no lugar correto.

5 - Expectativa: Comprar 10 brincos na 25 de março, e após a utilização, guardar ao final do dia, o brinco acoplado a sua tarrachinha  dentro da caixa de bijuterias.
Realidade: Dois meses após a compra de 10, sobram somente dois brincos inteiros na caixa.

6 - Expectativa: Ganhar flores!!!!!!!!!! Regá-las cantando três vezes ao dia!!!
Realidade:  Regar uma vez a noite, somente naquelas em que vou a cozinha beber água antes de dormir.

Estamos ainda no quarto mês do ano, e eu já descuidei de tantas coisas, que eu tinha de alguma forma e com alguma intensidade, me comprometido a cuidar bem. Achei engraçado o quanto a gente faz exatamente a mesma coisa nos relacionamentos pessoais.

Quantos cuidados temos no começo das relações, quantos mimos e dedicação para aos poucos, conforme a pessoa vai passando a fazer parte da nossa vida, e a gente vai se acostumando com a presença dela ao mesmo tempo em que os cuidados vão sendo deixados de lado... 
É como se deixasse de ser importante. É como se nada de mal pudesse acontecer as pessoas, ou às relações, pelo simples fato de alguém, de alguma forma, "pertencer" a você.

Se eu tivesse mais atenta aos detalhes, não teria deixado de fornecer o básico para a sobrevivência da minha florzinha: água, calor, sombra e carinho. Igualzinho o que as pessoas precisam!

Se eu tivesse tido um pouco mais de juízo, não teria deixado para resolver problemas " amanhã", afinal, nem sempre ele chega, e quando chega é tão incerto e descontrolado.

Se  eu tivesse tido um pouco mais de entendimento, não deixaria de sorrir, até chorar ou  ter dito como me sentia.

Se soubesse de tudo isso antes, não teria faltado com respeito e nem perdido oportunidades de dizer palavras bonitas e teria engolido mais as palavras amargas.

Teria compreendido mais, amado melhor e evoluído espiritualmente.

Teria cedido mais, amadurecido mais, tolerado mais, conversado mais, perdido menos tempo.

Se tivesse percebido que aquela pessoa era linda e especial a tempo, não teria tratado ela como trato os tantos outros... teria dado a atenção especial que lhe cabia, da mesma forma como deveria fazer com meus sapatos novos!

Se eu cuidasse das pessoas, com o mesmo zelo e afinco que agora tenho com meu aparelho auditivo, elas nunca teriam se quebrado. Se eu não tivesse esquecido minhas pessoas no meu porta malas, talvez estivessem vivas até hoje.

Se eu pudesse ter percebido tudo isso antes,
talvez este texto nem estaria aqui.