quinta-feira, 14 de abril de 2016

Fim de Caco!

Era uma vez, uma menina chamada Bárbara.
Era uma vez um sapo chamado Caco.

Caco era um sapo de pelúcia, verde, barrigudo, com longos braços e pernas.
Possuía na extremidade de seus membros, poderosas ventosas, para que pudesse ficar grudado em janelas e vidros em geral.

Caco chegou nas mãos de Bárbara, há muito, muito tempo. Fora presente de seu namorado em alguma ocasião especial e se pertenciam há uma provável década. Caco era daqueles bichos que ficavam no quarto da menina, enfeitando a cama e dando ares de descontração e aconchego ao cômodo.

Houve um tempo em que fora promovido. Caco não seria mais um bicho de cama, como tantos se limitam. Bárbara havia mudado de casa, e agora tinha uma varanda em seu novo quarto. Caco agora seria um bicho de janela. E assim, por lá ficou pegajoso que era, agarrado no vidro. Gostava de cumprimentar as pessoas do outro lado da sacada, de admirar o clima, e podia, afortunadamente assistir o nascer do sol e o nascer da lua no céu. 

Caco era um privilegiado mesmo, pois conforme os anos passavam, e a menina crescia, continuava sendo promovido. Bárbara adquiriu seu primeiro carro, e agora Caco tinha um novo lugar. Passou a acompanhar a menina por onde ela fosse. Seu novo espaço era sentadinho em uma superfície acima do porta luvas.

Caco descobriu inúmeros caminhos e rotas, passou a escutar música, a ler placas e pegou gosto por viagens. Por vezes, até relaxava e dormia, caindo do seu cantinho, principalmente em curvas acentuadas ou grandes subidas. Mas era que nem criança, dormia e quando acordava estava, como mágica, na sua caminha de volta. Não se lembrava nem de Bárbara parando no farol, pegando-o, dando alguns tapinhas pra tirar qualquer sujeira, e o recolocando em seu lugar.

Uma das viagens preferidas de Caco, foi quando Bárbara e seu marido, (sim, os anos continuavam passando, e a menina havia se casado com o tal namorado), foram para Aparecida do Norte. Na verdade, o sapo não foi a essa viagem, pois o casal havia ido com um outro carro. O que fazia Caco ter gostado mesmo assim dessa jornada, é que a menina havia comprado muuuuitas fitinhas daquelas coloridas, de Nossa Senhora de Aparecida. E adivinhem só? Ao chegar de viagem, Bárbara pegou as fitinhas e as amarrou em Caco, que agora além de Sapo Oficial de Companhia, era novamente promovido. Caco agora seria uma espécie de Sapo Amuleto Oficial de Companhia. 

O que eles não sabiam é que depois de grande e adultos, a própria vida ensina que ela transcorre de forma autônoma. Muitos planos feitos não saem do papel, assim como outros nem sequer imaginados, e melhores que os supostos, se realizam. A lei da vida é que a vida não tem lei. As coisas simplesmente acontecem, fogem ao controle, que na verdade também nem nunca existiu.

Na vida da menina Bárbara dessa forma aconteceu. Caco já estava achando esquisito que era apenas Bárbara quem dirigia o carro, assim como começou a estranhar ver a menina em lágrimas quase todas as vezes que entrava no carro e ligava o rádio. Músicas a faziam chorar, e ela já não mais dançava quando o ritmo era animado. Algum tempo depois, Caco percebeu do que se tratava. Entendeu que a garagem havia mudado...entendeu que o caminho de volta pra casa também não era mais o mesmo e que havia um banco vazio. Muita coisa estava fora de lugar, e ele ainda estava ali, firme e forte, acompanhado a menina em seus passos desnorteados como nunca foram. E seguiu com ela ainda, durante mais um ano e meio de aventuras a sós.

Outra coisa que aprenderam juntos é que chega um momento na vida em que é preciso desapegar. De pessoas, de objetos, de sentimentos, de comportamentos, de coisas que não fazem bem, de coisas que fazem mal, de coisas que já não servem e também de coisas que nada acrescentam, até daquelas que já nada acrescentam mas que também não diminuem: coisas dispensáveis.

E foi por isso Caco, foi por entender que tantos anos de companhia foram incríveis e prazerosos, que a menina fez o que fez. Ela agradeceu por todo esse tempo juntos e o levou para um lugar onde poderia ser novamente útil e proveitoso. Bárbara desamarrou as fitinhas do sapo, o embrulhou numa sacola e o levou para um bazar da Igreja que frequentava. Lá ele seria vendido ou até doado para alguma criança que precisasse dele, como um dia a menina precisou. Caco ficou triste no começo, sentiu-se abandonado, até mesmo porque chegou a conhecer o novo companheiro de sua menina: o gato Marley.

Marley é um gatinho preto, que recebeu esse nome por ser a mistura entre o nome Marcel e Leylanne, que são dois amigos que Bárbara fez durante sua nova fase de vida. Marcel foi quem percebeu que Caco já não cumpria mais o papel de melhor companheiro talismã e entregou Marley para a menina, explicando que essa nova fase pedia sutis mudanças...

Naquela noite, voltaram os três juntos. Caco dividiu o seu espaço acima do porta luvas com Marley. Conversaram durante apenas 15 minutos, mas foi o suficiente para se tornarem amigos. Um entendeu o porque do outro, e Caco enxergou que não estava sendo trocado ou deixado. Ele apenas tinha que ir. Havia chegado um momento em que a troca simbólica de companheiro era importante para Bárbara, por mais que ela não tivesse percebido sozinha. Entendeu que isso seria o melhor para sua menina, e por amá-la, deixou - se ir sem mágoas, assim como Bárbara o levou aonde Caco poderia haver de ter uma nova pessoa que cuidasse dele como ela um dia cuidou.

Caco com certeza está feliz onde estiver.
Marley tem muito mais sono do que Caco.
As fitinhas ainda não receberam um novo local para serem amarradas.
Marcel e Leylanne são namorados.

A reforma nunca acaba.
A vida recomeça para os três!

Fim de papo.
Fim de Caco.

Caco: Obrigada pelas aventuras!!!!

Marley: Bem vindo!! Are You Ready?! =)

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Ajayô!

Nos últimos três meses, minha maior preocupação quando notava que um domingo estava se aproximando, era se eu conseguiria assistir ao The Voice Kids. Ao perceber que eu não poderia estar deitadinha no meu sofá para apreciar as talentosas crianças ao vivo, assistia pela internet mesmo assim que arranjava um tempo livre durante a semana. Bom, o fato é que eu nunca perdia a nenhum episódio.

Umas semanas atrás, estava acontecendo as eliminatórias para a semi final.
Foi  meio triste!

Só tinha candidato bom. Crianças especias dotadas do dom do cantar e de emocionar a gente que é mais sensível, que chora  até com comercial de banco de dia das mães. Foi difícil pensar que pessoinhas tão capazes, teriam que ir embora. Eu não era capaz nem de torcer. Não havia como torcer para um só. Todos que estavam ali eram valiosos, interessantes e dignos de vitória.

Isso porque outros tantos, muito bons também, já haviam ido embora em outras semanas.
Essas crianças cantavam, eu me derretia, chorava ao ver também, o close na cara dos pais, que tinham olhos lacrimejantes e sorriso bobo na cara de verem seus pequenos dando literalmente um show de doçura e pureza em cima de um grande palco.

Enfim...
Chegava a hora em que os juízes precisavam escolher quem ficaria e quem sairia.
Era nítido que eles ficavam desconfortáveis, se emocionavam, enrolavam...porque era realmente difícil decidir. Mas precisavam fazer isso! Teriam que encontrar critérios, detalhes que fariam alguma diferença entre os candidatos.

Eu ia assistindo e ficando muito nervosa quando escutava essas frases:
"Vocês todos são incríveis, mas..." "Tem muito futuro pela frente, sua voz é maravilhosa, mas...." "Fico arrepiado, MAS... vou escolher o outro fulano".

Eu me perguntava..."Ora essa!!! Eles ficam elogiando, mas se é assim esse candidato tudo de bom como ele diz,  porque que não escolheu ele? Porque escolheu o outro?

E aí, esses dias, bem no dia da final do programa, de repente tudo fez sentido!
Me peguei pensando na minha vida, e em frases que ouvi mais de uma vez, por pessoas que no final também escolheram outras. "Você é incrível!" "Você merece muita felicidade", "Você é única!", "Você é especial!"

E eu entendi o que estava acontecendo.
As crianças eliminadas eram boas sim! Isso era incontestável!
O fato de não chegarem ao final da competição, ou de não terem vencido, não lhes tirava o valor e o talento que possuíam. Pelo contrário!

Aquilo o que viveram foi especial, e uma provável alavanca que vão empurrá-las para outras oportunidades em que poderão saírem vitoriosas! Porém, não significa que até chegarem lá onde querem, não receberão outros vários e doloridos "nãos". O que fará a diferença afinal, será se essa criança terá estrutura para não desistir, se conseguirá reconhecer seu valor, se irá aprender com os erros, com os "quases" e  aprender com o não, mesmo que não se entenda o porque deles.

Elas precisam seguir em frente! Elas cantam muito! Elas não podem parar! Elas não devem parar, porque elas chegarão sim, muito longe, e se mantiverem os pés no chão e a coragem para continuar encarando a vida, o palco, a plateia, e os jurados, poderão andar por caminhos de êxitos e triunfos.

Elas só precisam continuar treinando, cantando, se dedicando, aprendendo, por que são de fato incríveis, e portas estão e estarão abertas! Talvez não ali, naquele momento, como elas queriam, imaginaram e esperavam, mas outros caminhos serão trilhados e elas vão chegar lá onde querem, e vai ser lindo...porque não tem como ser diferente.

As coisas nem sempre funcionam no nosso tempo. Para escrever esse texto, estou há semanas, só porque sabia que mexeria com coisas aqui dentro do coração, que eu não queria cutucar. Mas elas precisam ser cutucadas e encaradas, para que sejam curadas e cicatrizadas.

Essa molecada, cada uma delas, têm seu valor, e por mais que não tenham ganhado o troféu, ou não tenham sido a escolha final, é nítido que todas tinham potencial. E obrigada! Obrigada por me fazerem perceber, que as coisas acontecem mais ou menos assim, na minha vida também! Eu também já ouvi alguns nãos, que doeram, porque vieram carregados de muita energia, de "quase".... mas  vocês me fizeram ver que sim, eu também tenho o meu valor! Eu também tenho potencial! Eu também devo ser de fato, "incrível", como disseram, mas o meu lugar não era ali, naquele lugar, com aquela pessoa! As pessoas fazem escolhas o tempo todo, e naturalmente, algumas não são as mesmas que as nossas.

Mas daqui, de longe... vou continuar tocando meu violão, aprendendo, me reconstruindo e me reconhecendo, e entendendo que o NÃO de alguém, acontece muitas vezes, para que a gente aprenda a dizer SIM para gente mesmo.

O não de alguém,  pode parecer injusto e vai doer, mas no final a gente acaba descobrindo de um jeito ou de outro, porque as coisas são como são e aprende que está onde devia estar.
Aprende que o não de alguém, vem pra ensinar que a vida não é tão controlável como queríamos.
Aprende que o não de alguém, dói, mas que se aprende tanto com ele, que talvez, valha a pena!
Aprende que o não de alguém, será um sim em algum outro lugar, em outro tempo, desde que se saiba lidar com ele.

Essas crianças estão aprendendo isso tudo com menos de doze anos, isso é muito fantástico! Eu mesma demorei vinte e oito para entender um pouco disso tudo e pra entender que há muito mais para ser compreendido.


Quem sabe eu ainda sou uma garotinha...