terça-feira, 7 de junho de 2016

No Pressure over Cappuccino

Aconteceu que na época da crise no relacionamento, pouco tempo antes dele decidir pela separação, eu havia conversando com um casal de amigos nosso, que além de amigos, eram primos dele e padrinhos do nosso casamento. Pessoas incríveis, que estiveram com a gente sempre, nos bons e maus momentos, até que o divórcio os separe.

Esse casal querido ao saber que nossa relação estava de mal a pior, nos convidou para tomar um café na Starbucks em uma noite fria de inverno. Era um clima literalmente frio tanto fora, quanto dentro de casa. E o inverno da nossa convivência doía, me fazendo acreditar, na época, que a dor jamais passaria.

Tentaram fazem a gente conversar, tentaram ajudar, tentaram dar conselhos e fazer a gente se acertar, coisa que eu já não conseguia fazer com sucesso há muito tempo. Além disso, nos acolheram e fizeram a parte deles. Tenho imensa gratidão por estarem ali quando tudo desabou, e por tentarem fazer tudo não cair. 

Foi uma noite de tentativas no Starbucks. Cafés esfriando, canudos mordidos e nada resolvido. Foi uma noite do começo do fim. A separação acabou de fato sendo concretizada algumas semanas depois, e o divórcio propriamente dito aconteceu em seguida.

Num dia desses nublados, houve uma determinada data em que ele me telefonou.

- Oi tudo bem?
- Oi, tudo bem sim e você?
- Eu também!....(pausa) Olha, precisamos conversar sobre como as coisas vão ficar, detalhes da separação, a mudança, o apartamento...
- Ah sim! Claro, precisamos sim.
- O que você acha de hoje a noite?
- Por mim, tudo bem. Aonde?
- Que tal no Starbucks?

E novamente, a cafeteria seria palco de diálogos doloridos e enfadonhos que machucariam os corações, e que fariam o café ter um sabor ainda mais amargo do que de costume. Era uma quarta- feira. A Starbucks era aquela, ao lado do estádio do São Paulo, time que jogaria naquela noite. Eu estava a caminho, quando o celular tocou.

- Oi, você já saiu?
- Oi, sim, já estou chegando.
- Melhor irmos para outro lugar, está muito trânsito, além do mais, aqui está lotado, podemos ir ao shopping?
- Ah ok! Tudo bem, vou fazer um retorno e te encontro lá.

Quase. Quase a Starbucks carregaria esse peso do encontro dos ex - casados em acerto de negócios.

Após alguns meses separados, surgiram as crises de saudade, culpa, remorso e dúvidas se havia feito a coisa certa e em um dos seus acessos de melancolia, ele me ligou convidando pra conversarmos, nos ver, contar um ao outro como ia a vida e sentir se era isso mesmo que ele queria.

- Vamos no Starbucks, que tal? - Ele sugeriu.
- Ok, pode ser.

E lá estávamos os dois, dessa vez sozinhos, ele tentando descobrir se não havia se precipitado em sua decisão, e eu com dificuldade de deixa-lo ir e tocar a própria vida. Mais pra frente, ele iria descobrir que não havia precipitação e que estava certo. Assim como eu também conseguiria retomar a vida com muito mais vigor do que jamais tivera. Eu não sabia, mas seria feliz de novo, ainda que aquele dia, pensasse que só seria se fosse ao lado dele.

Nunca mais depois, eu havia ido aquele Starbucks estigmatizado. Talvez por falta de oportunidade, talvez por lembranças ruins, talvez por eu nem gostar tanto assim de café.

Até ontem. 

Ontem me perguntaram se havia um lugar legal para ir perto da minha casa....não precisei pensar mais que 10 segundos.

- Tem sim! Tem um Starbucks aqui perto.
- Legal! Te pego na sua casa e vamos lá.

E lá dentro, depois de tanto tempo...

-Vamos no andar de cima, lá tem um sofá tipo dos Friends.
- Gostei muito daqui! Você escolheu bem!
- Sabe...Eu adoro este lugar!

E o tempo cura, sara, remedia. A vida continua, o passado passa e o presente é de fato um presente. As lembranças ruins viram lembranças apenas. A dor cessa. O inverno chega, e é só do lado de fora. O frapuccino ainda que gelado, esquenta lá dentro. O paladar se refina! Os lábios sorriem e a vida escreve seu nome em outro copo...