domingo, 22 de janeiro de 2017

Cadeiras

Estava comprando algumas coisas num shopping perto de casa e como já era hora do almoço, resolvi almoçar por lá, sozinha. Enquanto aguardava a minha senha aparecer vermelha no visor, sentada ali na praça de alimentação, não estava mexendo no celular. Estava observando, pra variar, a movimentação.

Havia muitas mães e filhos. Haviam apenas casais. Haviam alguns amigos apertados naqueles confortáveis bancos alemães. Havia uma família que me chamou a atenção, ao qual meus olhos se demoraram mais.

Era uma típica família de comercial de margarina: um papai, uma mamãe, uma criança e uma vovó.
Devo ter sorrido ao vê-los, pois aquela cena me aquecia o coração. Parecia algo que eu quase tive ou parecia algo que um dia gostaria de ter. Apesar de conflitivo e contraditório, observava a criança comendo um lanche do Mc Donalds, com uma mão e brincando com o brinde com a outra.

Os adultos comiam comida mais saudável, conversavam e riam. A vovó estava de frente para a criança, provavelmente se perguntava mentalmente qual a sobremesa mais gostosa para oferecer ao pequeno quando terminassem a refeição.

Mal sabiam o constrangimento que estava por vir:

Tudo muito rápido, a cadeira que a vovó estava cedeu e de repente a velhinha estava no chão, espatifada. Ela usava um vestido florido que subiu por entre as coxas, e ficou muito nervosa tentando arrumar de alguma forma, para que conseguisse cobrir novamente o que já havia sido descoberto.

Um homem que estava sentado ao lado da família, se encarregou de auxiliar a senhora a levantar, junto com a mãe. A criança também se levantou e levou as mãos a boca. Até soltou o brinquedo recém adquirido.

O pai tirava fotos da cadeira quebrada no celular, provavelmente para postar em alguma rede social o acontecido e criticar o shopping, ou qualquer coisa do tipo.

Posta em pé, a senhorinha estava amparada pela filha, queixando muito de dor nas costas. Após bater mais fotos, o pai recolheu as bandejas e jogou tudo fora, pegou a criança pela mão e foi chamar o segurança. Em breve, ele chegou, explicaram o acontecido e em poucos minutos foram todos embora.

Um acontecimento chato porém banal me trazia a mente que a vida é assim mesmo.

De repente você está, de repente não está mais.

Às vezes as coisas cedem.  No caso da  cadeira, ou por serem antigas, ou por serem mal construídas, ou por não ser ajustarem a você: não contei ainda, mas a vovó era gordinha.

Senti que meu casamento quebrou como fosse essa cadeira.

Era antigo, então parecia seguro. Algo em que se podia confiar. Algo que não precisava ajustar devido justamente ao seu longo tempo de vida. Afinal, se do jeito que estava funcionava, estava garantido, para que mexer? Até dava sinais de fraqueza, mas nunca imaginei que meu velho banco cederia. Pois, repetidamente: funcionou sempre.

O que eu não sabia é que apesar de funcional, ele era mal construído. Apesar de tudo aparentemente parecer bem, claramente dava sinais de enfraquecimento e fragilidade.

Um pé bambo. Um irritante pé bambo. Ele tinha sim. De fato era preciso constantemente encontramos um ponto de equilíbrio, mas qualquer movimentação mínima, fazia tudo estremecer novamente. Mas sabe? Como eu já disse... ele funcionava. 

Nunca havia deixado na mão. Acho que estávamos acostumado com essa falta de estabilidade. Manutenção dá trabalho né? Pra que consertar coisas que funcionam bem, com um jeitinho aqui e outro ali. Era o pensamento infantil arraigado àquele relacionamento. Por vezes ainda, por alguns segundos, quando paro pra pensar muito, ainda me sinto culpada de não ter visto tudo a tempo da ruína, mas logo passa, mas esse é o próximo parágrafo.

Aquela cadeira, na verdade, se ajustava bem a gente. Se por um lado, eu tenho minha parcela de culpa, ele igualmente tem também. E é por isso, sem me estender muito, que esse sentimento angustiante passa. Estávamos completamente moldados a uma cadeira existente antiga, enquanto devíamos fazer ela se moldar a nós com o passar do tempo. Fazíamos esforço para nos acomodarmos nela, e quando era desconfortável, simplesmente aguentávamos sem buscar consertá-la, ou torná-la melhor. 

Quissá, era preciso construir uma nova em folha, com muito cuidado e carinho, reconstruí-la. Ano após ano passados, crescemos e temos novas formas, não cabemos mais em cadeiras que costumávamos caber quando crianças. 

O mesmo acontece com o relacionamento: é preciso ajustá-lo e recriá-lo sempre que a perna começar a gastar. Sempre que o encosto parecer desconfortável. Sempre que o estofado comece a soltar a espuma. Sempre que necessário. A cadeira precisa se ajustar as novas necessidades da gente. Amadurecer com a gente.  

Mas quem conserta uma coisa que não parece estar quebrada, afinal?

A cadeira no shopping não emitiu sinais. A cadeira do casamento até emitiu sim, mas não se tinha olhos para percebê-los, e se hoje Bárbara, você tem, é somente porque amadureceu com a queda. Tudo acontece como tem que acontecer. Até a família da margarina não escapa de sustos e coisas não controláveis, percebe?

Um apito agudo me afastou dos pensamentos: minha senha brilhava no visor.
Está pronto!


Essa foto tirei em uma viagem, tirando sarro como se fosse uma rainha, e nesse momento me lembrei que de repente, mais que uma cadeira ajustada... que a gente seja capaz de erguer tronos em relacionamentos =)

domingo, 1 de janeiro de 2017

Noite Feliz

Data: 23 de dezembro de 2016: faltavam dois dias para mais um natal!

Aproveitava um intervalo entre um paciente e outro,  para fazer a mão, pensando no final de semana festivo e em como devia estar arrumada para a ocasião. Enquanto a moça lixava minhas unhas, eu dei uma contemplada no salão: lotado! Todas ali pensando o mesmo que eu.

Lembrei-me que se tratava do aniversário de Jesus. A festa mais importante  para a qual somos convidados durante o ano!

Passou - me pela cabeça uma imagem: o menino nascendo num presépio (pequenino), deitado em uma manjedoura afofada com palha, sem luz que não fossem a das estrelas no céu a noite... apenas seu pai José e sua mãe Maria ao lado, rodeados por alguns animais do estábulo, que testemunhavam seu nascimento. Tudo tão lindo e tão simples.



Por um minuto, tive ímpetos de sair correndo. 
Me senti culpada por ter me preocupado com algo banal para a ocasião do natal.

Havia me dado conta afinal, de que se a festa fosse com Jesus em carne e osso, ao tocar a campainha da casa dele, ele pouco se importaria com a roupa que eu estivesse usando, se eu havia feito um penteado bonito, levado presente ou pintado as unhas.
Ele iria simplesmente abrir a porta e agradecer a presença e ficaria feliz e orgulhoso porque eu estaria ali, ao seu lado. No caminho certo pelo qual ele quer que sigamos.

Aí me dei conta de outra coisa:

De que adianta usar uma roupa nova e linda, se o coração estiver corrompido por sentimentos perversos e feios?

De que adianta um penteado elegante se ele esconde, dentro da cabeça, pensamentos mesquinhos e egoístas?

De que adianta distribuir presentes aos entes queridos, se não estamos presentes no dia a dia dos nosso familiares e amigos quando precisam de nós?

De que adianta pintar as unhas de vermelho se as mãos não forem capazes de ofertar carinho  e vivem fechadas, dentro do bolso evitando a caridade?

De que adianta sapatos dourados ou prateados, se o caminho que os pés fazem, desviam daqueles trilhados pelas sandálias calçadas por Jesus? 

De que adianta a maquiagem brilhantemente produzida, se ela não melhora nos olhos, nossa capacidade de enxergar ao próximo, e se não melhora na boca, a capacidade de emitir apenas palavras edificantes e positivas nos diálogos?

De que adianta preparar uma mesa farta e bem decorada para a ceia, quando não se ajuda às famílias que não tem o que oferecer aos filhos todos os dias?

De que adianta o brinde com o espumante valioso, se passar o resto do ano com a garganta seca e voz ríspida?

Quando a manicure concluiu o serviço, eu estava ainda pensando em tudo isso internamente e em como colocaria em prática para ser digna de entrar na festa. Entendi que todos os dias a solicitação é feita: quando abrimos a janela e o sol brilha por ela, é Jesus nos entregando o convite para seu aniversário.
Não quero rasgar mais nenhum! Desafio aceito! Lá vamos nós para mais um ano de prática!

Feliz Natal!
Feliz aniversário Jesus! Sinta-se abraçado e muito, muito amado, mestre!

Que você, seu pai e meus anjos da guarda me fortaleçam para ser cada dia mais como você, mansa e pura de coração. O maior exemplo de amor que já passou por essa Terra!