sexta-feira, 1 de abril de 2016

Ajayô!

Nos últimos três meses, minha maior preocupação quando notava que um domingo estava se aproximando, era se eu conseguiria assistir ao The Voice Kids. Ao perceber que eu não poderia estar deitadinha no meu sofá para apreciar as talentosas crianças ao vivo, assistia pela internet mesmo assim que arranjava um tempo livre durante a semana. Bom, o fato é que eu nunca perdia a nenhum episódio.

Umas semanas atrás, estava acontecendo as eliminatórias para a semi final.
Foi  meio triste!

Só tinha candidato bom. Crianças especias dotadas do dom do cantar e de emocionar a gente que é mais sensível, que chora  até com comercial de banco de dia das mães. Foi difícil pensar que pessoinhas tão capazes, teriam que ir embora. Eu não era capaz nem de torcer. Não havia como torcer para um só. Todos que estavam ali eram valiosos, interessantes e dignos de vitória.

Isso porque outros tantos, muito bons também, já haviam ido embora em outras semanas.
Essas crianças cantavam, eu me derretia, chorava ao ver também, o close na cara dos pais, que tinham olhos lacrimejantes e sorriso bobo na cara de verem seus pequenos dando literalmente um show de doçura e pureza em cima de um grande palco.

Enfim...
Chegava a hora em que os juízes precisavam escolher quem ficaria e quem sairia.
Era nítido que eles ficavam desconfortáveis, se emocionavam, enrolavam...porque era realmente difícil decidir. Mas precisavam fazer isso! Teriam que encontrar critérios, detalhes que fariam alguma diferença entre os candidatos.

Eu ia assistindo e ficando muito nervosa quando escutava essas frases:
"Vocês todos são incríveis, mas..." "Tem muito futuro pela frente, sua voz é maravilhosa, mas...." "Fico arrepiado, MAS... vou escolher o outro fulano".

Eu me perguntava..."Ora essa!!! Eles ficam elogiando, mas se é assim esse candidato tudo de bom como ele diz,  porque que não escolheu ele? Porque escolheu o outro?

E aí, esses dias, bem no dia da final do programa, de repente tudo fez sentido!
Me peguei pensando na minha vida, e em frases que ouvi mais de uma vez, por pessoas que no final também escolheram outras. "Você é incrível!" "Você merece muita felicidade", "Você é única!", "Você é especial!"

E eu entendi o que estava acontecendo.
As crianças eliminadas eram boas sim! Isso era incontestável!
O fato de não chegarem ao final da competição, ou de não terem vencido, não lhes tirava o valor e o talento que possuíam. Pelo contrário!

Aquilo o que viveram foi especial, e uma provável alavanca que vão empurrá-las para outras oportunidades em que poderão saírem vitoriosas! Porém, não significa que até chegarem lá onde querem, não receberão outros vários e doloridos "nãos". O que fará a diferença afinal, será se essa criança terá estrutura para não desistir, se conseguirá reconhecer seu valor, se irá aprender com os erros, com os "quases" e  aprender com o não, mesmo que não se entenda o porque deles.

Elas precisam seguir em frente! Elas cantam muito! Elas não podem parar! Elas não devem parar, porque elas chegarão sim, muito longe, e se mantiverem os pés no chão e a coragem para continuar encarando a vida, o palco, a plateia, e os jurados, poderão andar por caminhos de êxitos e triunfos.

Elas só precisam continuar treinando, cantando, se dedicando, aprendendo, por que são de fato incríveis, e portas estão e estarão abertas! Talvez não ali, naquele momento, como elas queriam, imaginaram e esperavam, mas outros caminhos serão trilhados e elas vão chegar lá onde querem, e vai ser lindo...porque não tem como ser diferente.

As coisas nem sempre funcionam no nosso tempo. Para escrever esse texto, estou há semanas, só porque sabia que mexeria com coisas aqui dentro do coração, que eu não queria cutucar. Mas elas precisam ser cutucadas e encaradas, para que sejam curadas e cicatrizadas.

Essa molecada, cada uma delas, têm seu valor, e por mais que não tenham ganhado o troféu, ou não tenham sido a escolha final, é nítido que todas tinham potencial. E obrigada! Obrigada por me fazerem perceber, que as coisas acontecem mais ou menos assim, na minha vida também! Eu também já ouvi alguns nãos, que doeram, porque vieram carregados de muita energia, de "quase".... mas  vocês me fizeram ver que sim, eu também tenho o meu valor! Eu também tenho potencial! Eu também devo ser de fato, "incrível", como disseram, mas o meu lugar não era ali, naquele lugar, com aquela pessoa! As pessoas fazem escolhas o tempo todo, e naturalmente, algumas não são as mesmas que as nossas.

Mas daqui, de longe... vou continuar tocando meu violão, aprendendo, me reconstruindo e me reconhecendo, e entendendo que o NÃO de alguém, acontece muitas vezes, para que a gente aprenda a dizer SIM para gente mesmo.

O não de alguém,  pode parecer injusto e vai doer, mas no final a gente acaba descobrindo de um jeito ou de outro, porque as coisas são como são e aprende que está onde devia estar.
Aprende que o não de alguém, vem pra ensinar que a vida não é tão controlável como queríamos.
Aprende que o não de alguém, dói, mas que se aprende tanto com ele, que talvez, valha a pena!
Aprende que o não de alguém, será um sim em algum outro lugar, em outro tempo, desde que se saiba lidar com ele.

Essas crianças estão aprendendo isso tudo com menos de doze anos, isso é muito fantástico! Eu mesma demorei vinte e oito para entender um pouco disso tudo e pra entender que há muito mais para ser compreendido.


Quem sabe eu ainda sou uma garotinha...

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