quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Sobre trilhas e rumos

Após dois meses que havíamos nos conhecido, estávamos passando o final de semana na cidade de Gonçalves em Minas Gerais.

Torcíamos para que o domingo amanhecesse com um agradável dia de sol, após um sábado com chuva e muito frio. Para nossa sorte, Santa Clara clareou e São Domingos iluminou. Planejávamos fazer uma trilha neste dia, colocamos a mochila nas costas e fomos.

Assim que chegamos na porteira de entrada, apareceu um cachorro, pra lá de carente. Pulava na gente e ficava cercando. Nos seguiu do começo ao fim. Em alguns momentos parecia indicar o caminho, familiarizado que ele estava naquele território. 

Confesso que às vezes, até nos assustava, entrando por umas árvores e do nada saindo de um outro lado, correndo e fazendo barulho.

O caminho percorrido era assim:

Uma trilha que parecia sem fim. Daquelas que inevitavelmente a gente segue em frente, já sofrendo pela volta. O caminho era firme em algumas passadas mas, escorregadio em tantas outras. 

Em alguns momentos precisava usar minha velha capacidade de observação para parar por alguns segundos e pensar aonde seria mais sensato pisar. 

Não cheguei até o fim. 
Fiquei com medo da altura. 
Empaquei, igual mula. 

Mas parada lá no alto, faltando só um pouquinho pra acabar, ouvindo sem aparelho o barulho do vento, já tinha pego o espírito da coisa. 

A assinatura de Deus estava no caminho. Em todo ele. 

A visão imagino, teria sido espetacular poucos metros acima, mas a vista, até onde meu limite mental permitiu, trouxe esclarecimento suficiente: 

Ele sempre nos guia lá do alto, mas ontem, estive com Ele aqui embaixo durante todo o trajeto, caminhando lado a lado. Afinal, Cara, com todo o respeito: pensou que eu não ia reconhece-lo, com sua fantasia de cachorro?!



O texto acabaria bem aqui.

Porém, ao relê-lo achei engraçado que a descrição da trilha, descreve também o meu companheiro neste roteiro. Igualzinho. Sem tirar uma vírgula.
Um cara firme, mas às vezes escorregadio.
Um cara que me faz parar empacada, observando aonde pisar com sensatez.
Um cara que carrega uma história assinada por Deus.
Um cara que não permite, ainda, que eu o veja por inteiro.
Um cara que não usa fantasia ou máscaras, porém, permanece escondido atrás de si mesmo.

Não sei por quanto tempo ele permitirá compartilhar sua vida comigo, mas deixo aqui registrado que até onde consegui ver deste cara, (assim como o que consegui ver da trilha), foi suficiente para me fazer sentir gratidão. Ele trouxe tantos pequenos momentos de felicidade que formaram um novo capítulo da minha vida, por mais que ele já tenha decidido seguir seu próprio caminho.

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