terça-feira, 17 de outubro de 2017

Carga Pesada




O dia? Segunda feira, pós emenda de um feriado de quinta.
O horário?  7 horas da manhã no primeiro dia útil em horário de verão.
Estava em uma semana já de tensão, gigante pela própria natureza, da sua ovulação.
Havia voltado de viagem as 19 horas da noite do dia anterior, após 7 horas de viagem.
Assim mesmo. Tudo sete.
O número cabalístico que assombrava seu esgotamento físico e mental.

Tinha saído de casa correndo, atrasada para o trabalho. Suas pálpebras estavam inchadas tanto pelo sono quanto pelo choro.
O motivo do sono? cansaço. Já o do choro, nem ela sabia. Era uma confusão na sua cabeça: depressão pós viagem, muitas horas na estrada, correria por estar atrasada, mau humor matinal, chorava até por não querer estar chorando. Era uma péssima companhia para si mesma naquela manhã nublada.

 O aplicativo do trânsito, indicava que chegaria em cima da hora. Desde que não houvesse nenhuma intercorrência no trajeto, algo como obras bloqueando uma faixa, caminhão do lixo ou pegar todos os faróis possíveis fechados, estava tudo bem.

Faltando em torno de 3 quilômetros para chegar ao trabalho, notava que no sentido contrário vinha um caminhão. Desses bem cumpridos. Longos mesmo. Enormes. Um tipo daqueles que para toda a rua caso queira manobrar ou dar ré.
(Talvez ele nem fosse tão grande assim, mas parecia nessa circunstância).

Aconteceu o temido fato: ele deu seta para entrar na mesma rua que ela teria que seguir também.
Ela pisou no acelerador e olhou para o painel, procurando um botão de turbo escondido. Porém realmente seu carro não possuía este recurso.
Fez de tudo para conseguir entrar na frente do bendito caminhão. Já havia xingado mentalmente até a mãe do motorista. Havia parado de chorar, tão concentrada que estava em entrar na rua antes que a lesma colossal de oito rodas o fizesse.

Em vão, lutou. Além de não conseguir passar a frente do caminhão, ficou ainda atrás de outro carro.
Os xingos mentais tomaram forma de expressão oral. Uns quatro palavrões bem articulados foram ditos dela pra ela mesma. Bateu a mão no volante, como quem dava um soco. Um soco na fuça daquele motorista!
Olhava o relógio e o aplicativo. Tinha certeza que agora, atrás de tamanha joça, perderia preciosos minutos para atravessar o que faltava da distância.

Voltou a chorar, a se questionar o porque tudo estava dando errado logo cedo. Tudo se complicava, estava difícil e errado. Só queria chegar ao trabalho a tempo. Devia ter saído mais cedo sim, mas a culpa era do horário de verão que havia devorado com gosto, uma hora do seu sono REM.
Enquanto xingava Deus e o mundo, e questionava a própria existência se debatendo em desgosto pela vida e rotina... o caminhão deu nova seta:
Saiu da frente dela.
Entrou em uma rua qualquer a direita.
Seguiu o caminho dele.
Liberou a passagem.
Na verdade, não deve ter ficado mais que 20 segundos na mesma avenida em que ela estava.

Ao ver o caminhão indo embora e a rua livre novamente, se deu conta do quanto  perdeu tempo.
Não o  tempo do horário em si. Ela chegaria  no trabalho em breve.

Perdeu tempo se enfurecendo com algo irreal.
Preveu obstáculos no caminho que na verdade não existiram.
Pensou coisas tão ruins do motorista e da mulher que o gerou, sendo que sequer chegaram a atrapalha-la. E que mesmo que assim tivessem feito, não mereciam tamanho descontrole.

Parou de chorar, atônita e chocada com si mesma. Havia achado impressionante a maneira como o problema havia se resolvido sozinho. Sem que ela precisasse fazer nada.
Ele simplesmente ficou o tempo que deveria ficar e se mandou.
A estrada novamente isenta de obstruções.
Só tinha que esperar segundos. Nada mais que isso.

Não chegou assobiando ao trabalho, mas estacionou o carro, pensando que a vida era engraçada assim mesmo: resolvida com o tempo...e às vezes trazia respostas e alívios muito antes do que imaginava.

Basta ter paciência, um pouco de calma. Um pouco de fé.
Cedo ou tarde, a gente ultrapassa obstáculos.
Nem sempre podemos impedir que eles cheguem.
Eles chegam e nos obrigam a reduzir a marcha.
"Ei vai com calma! Aprecie a paisagem. Relaxe."
E simplesmente se vão.
O que parecia ser um baita problema e atraso de vida, na verdade, nem chegaria para ficar.
Quanto stress à toa.
Quanta injustiça com o pobre motorista, quando ela é quem tinha que ter saído de casa mais cedo.
Enfim...

Eram poucas as opções:
Ou ela chorava por ter acontecido o aborrecimento ou aproveitava para aumentar o volume do rádio e curtia por mais tempo a música.
Havia escolhido errado.

Mas quem nunca?


Resultado de imagem para é uma cilada

4 comentários:

  1. KKKKKKKK! Ri muuuuuuuito! Bárbara, você está bem?
    Ano que vem eu largo a mecânica (30 anos nesse hospício) e vou dirigir um caminhão.......
    E tem mais ..... Sampa City bye bye....... Santos lá vou eu, chega dessa cidade cadáver aqui, maldosa está acabando com a minha sanidade mental. Aqui a gente vive pra trabalhar e mais nada. Eu tenho um probleminha sério com relação ao oceano.... é a única coisa no planeta terra que consegue trazer um pouquinho de calma e serenidade a minha "caixinha de maluquices" ( nome carinhosamente dado a minha cabeça por uma cliente minha aqui da oficina que é psicóloga.....

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    1. kkkkkkkk!! Eduuu!!
      a ideia era realmente dar uma leve pitada de humor em um texto pesado! ahahha
      Estou bem meu querido! Percebo que você também está, e isso é maravilhoso!!!
      Adorei as novidades!! Morar no litoral é um sonho...trabalhar de bicicleta...escritório na praia..está sempre na área!! ahahaha
      Nem deu tempo de vc fazer uma revisão no meu carro, antes de largar os ossos do ofício!!!!!

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    2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    3. Bárbara boa tarde! Estarei pela oficina até pelo menos fevereiro do ano que vem, talvez um pouquinho mais. Aprendi muito nos últimos meses, mas de todos os aprendizados algumas coisas sempre vem a minha cabeça, vou partilhar com você.... "Muitas pessoas querem se mudar para um lugar mágico, mas poucas tem a coragem de tentar" li isso e sempre lembro. Outra: "Nunca tome decisões baseadas em sentimentos negativos, como medo, insegurança, ou por falta de conhecimento." Ou seja, bora planejar e viver!
      Seu blog me ajudou bastante ao longo de toda a caminhada, me deu respostas que vieram no tempo certinho. Você é um ser de luz menina e um dia desses eu vou te dar um abraço daqueles de ficar as perninhas balançando no ar. (com todo o respeito!)

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