Dias atrás eu fui a um sítio de
uma amiga comemorar o aniversário de 06 anos da filha dela. Claro que toda família estava por lá, e como
sempre acontece, o meu lado magnético positivo para idosos logo me fez
simpatizar com o avô da tal amiga.
O pai do meu pai já era falecido
antes mesmo de eu nascer. O pai da minha mãe... bom, esse está entre nós, mas
devido a uma série de questões, se a convivência for uma vez ao ano, em um
almoço de natal, já é alguma coisa.
Eu não tenho e nem tive avô. Aliás,
taí uma coisa que não deveria faltar a ninguém. A nenhuma criança e a nenhum
adulto! Vô e Vó, pai e mãe, tinham quer ser eternos! É pedir muito? Tive avós,
mas se foram, uma quando eu devia ter uns 9, 10 anos, e a outra quando eu tinha
em torno de 20.
Avós são pessoas recheadas de
ternura, afeto e carinho. Quando ninguém mais aguenta ou sabe o que fazer, como
super heróis, eles tem uma solução. Eles transbordam paciência e exalam amor
por todos os poros.
Seu Alberto.
Esse era o nome do avô da minha
amiga.
Com sua bengala, cabelo branco
nas laterais da cabeça e a careca no centro, me ganha fácil a simpatia. Cheio
de histórias para contar, é uma lembrança viva do passado. Sabedoria
personificada.
Assim era ele, e assim, costumam ser todas as pessoas velhas.
Assim costumam ser todos os avós.
Assim sou eu querendo ouvir o que eles tem a
dizer e o que aprenderam pela vida inteira.
Eu já havia topado com o sr.
Alberto diversas outras vezes, em outros aniversários por aí, e cada vez que o
via, sempre me encantava.
Não foi diferente dessa vez. Ao me ver tocando violão, tomando um pouco de
sol sentada à beira da piscina, de longe me gritou:
“- Ei! Vem tocar pra mim. Quero
ouvir. Sente aqui ao meu lado”
Lá fui eu, recolhendo as cifras
espalhadas, juntando tudo rapidamente e pensando com meus botões, se teria
habilidade para tocar alguma música para ele.
Sorrindo cheguei ao lado dele,
logo me explicando:
- Senhor Alberto, ainda não sei
direito, estava justamente praticando porque fazem apenas uns oito meses que
faço aula.
- Não importa minha filha. Então
faz o seguinte, treina aqui do meu lado.
Assim fiz, e enquanto Sr. Alberto
jogava dominó, eu praticava uma música que o professor havia me passado na
última aula. Não demorou muito, ele me falou:
- Sabe, eu gostaria de ouvir uma
música romântica. Dessas que eu gosto! Gosto muito de Roberto Carlos.
- Vou ver o que consigo fazer por
você!
“Como vai você? Eu preciso saber
da sua vida! Peça a alguém pra me contar sobre seu dia, anoiteceu e e preciso
só saber: como vai você!”
Aos trancos e barrancos, com
pausas maiores do que a música pede, com dedos em cordas erradas e em casas
trocadas, uma melodia parecida começa a soar.
Seu Alberto fecha os olhos.
“- Você toca suave!”
- Mas tá mais ou menos Seu
Alberto! Não sei direito, é muito difícil pra mim ainda.
- Sim sim, eu imagino. Mas continue!
“Como vai você, que já modificou
a minha vida! Razão da minha paz, já esquecida... nem sei se gosto mais de mim
ou de você!
A música acaba, e vou praticando
outras coisas, até receber um novo pedido.
- Tem uma que gosto muito!
Beijinho Doce!
- Essa é fácil!!
Que beijinho doce, que ela tem! Depois que beijei ela, nunca mais amei
ninguém.
- Você sabe que essa música é
tudo mentira, né menina?
- hahahahahaha!!! Ta meio forçada
né Seu Alberto?
-Mas é tão linda!!
Que beijinho doce, foi ela quem
trouxe de longe pra mim. Se me abraça apertado suspiro dobrado, que amor sem
fim!
- Vou te falar uma que você tem
que aprender: Luar do Sertão
- Deixa eu pesquisar aqui..... Ahhh
seu Alberto. Essa fica pra próxima, não sei nem como começa!
-Então essa você tem que aprender mesmo!
- Combinado.
E lá fiquei tocando outras
velharias românticas que pensei que lhe agradariam.
Após um tempo, acabou a bateria
do meu celular, então já não poderia mais acessar as cifras pelo aplicativo.
- Chega seu Alberto! Agora não
sei mais nada, e os dedos já doem mesmo.
- Então vamos ali, tá vendo
aquele pé de laranja lá na frente? A gente pega as laranjas e pode fazer um
doce.
Ele me fala a receita passo a
passo, até chegar alguém que o solicita e o leva para outro canto da festa.
Mais tarde chega o cara de novo:
- Agora quero jogar dominó com
você!
-Opa! Vamos!!
Nisso, Guilherme, um neto dele de 05 anos
aparece sentando-se na mesa querendo jogar também.
Seu Alberto me olha com uma cara do tipo, “putz! Já era!”. Mas continuamos
jogando, e ele deixa o netinho ganhar, perdoando quando o moleque joga na nossa
vez, e até quando ele coloca um quatro num canto que deveria ser cinco e me
olha novamente “faz de conta que não
vimos!” e eu pisco assumindo cumplicidade na vitória do pequeno Gui!
Na hora de ir embora, fui me
despedir, e ele disse:
- Volta! Você vai voltar, não vai,
outras vezes?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Quer dar um conselho? Uma bronca? Uma puxada de orelha? Quer desabafar? Apoiar? Estamos aí!