quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Para Camila...

São Paulo, 18 de fevereiro de 2016.

Querida Camila,

Seria uma repetição exagerada se eu começar essa carta dizendo que me divorciei em outubro de 2014, que sofri desconpassadamente e que tinha dias em que eu nem queria levantar da cama?

Um mês depois, com o incentivo de uma amiga, cheguei lá na academia. Me falaram que faria bem, que eu devia cuidar de mim, que o lugar era muito especial e cheio de gente legal e atenciosa. Além de ter piscina e aulas de esportes.

Sabe o vôlei? Eu sempre gostei! Acho até meio sinistro dizer isso, mas quando eu era criança e passava em frente a nossa academia, eu falava pra minha mãe: "Um dia eu vou fazer aula de vôlei!". E esse dia finalmente chegou. Mal sabia eu naquela época, que seria assim, por este motivo... que o vôlei e aquela academia seriam meu refúgio após uma grande decepção amorosa.

Claro que entrei para as aulas, junto com aquela minha amiga que me levou pra lá! Infelizmente você não a conheceu. É a Roberta, que realmente estava certa, aquilo tudo estava me fazendo um bem danado. Só que umas duas semanas após eu entrar, o plano da Beta venceu, e por algumas questões, ela não renovou.

Então comecei a frequentar a academia sozinha. Logo fiz amizade com o professor, Marcel, e ele também dava aula de futebol. Ele me chamou pro time do fut! Mas eu dei uma relutada...demorei um pouco para aceitar esse convite. Só lá pra fevereiro ou março de 2015 que eu resolvi ir, assim, só pra ver no que dava. Adivinha? Gostei também. 

Nessa aula tinha uma menina que ia frequentemente com uma camisa da Argentina, ou com uma camisa do Barça. Essa menina era você. Mas eu nem sabia.

Um dia, conversando com uma outra pessoa do time, a Michele, sobre relacionamento, minha separação, minha história, você vinha chegando, parou para nos cumprimentar, e não saiu. Ficou ali, ouvindo a gente falar sobre esse assunto. Talvez você nem se lembre, mas foi ali, de pé, ao lado da quadra, comigo falando que ia tatuar "Amor só de mãe!", que trocamos as primeiras gargalhadas!

Dali pra frente só chegou naturalmente o melhor que uma amizade tem a oferecer.

A gente ria junta, a gente chorava junta, a gente xingava junta.
A gente se dava carona. A gente se tatuou juntas. A gente saia pra comer espetinho depois do fut. Ou até ia comer bolo na Sodiê. A gente se falava o tempo todo por whatsapp, ás vezes tão tarde, que sempre uma pegava no sono e só respondia no dia seguinte. A gente trocava prints de conversas. A gente se mandava audio bêbadas. As vezes até ligava bêbada também.

Lembra do dia que você ligou tarde da noite : "To com brejas e sem companhia!" e acabou dormindo lá em casa?  E de visitar o Oliver comigo no hospital? De ir ao Centro? E de te convencer a jogar vôlei também? De torcer por você durante a Olimpíada de Natação? De procurar bares abertos pra conversar tarde da noite? De comer as esfihas do Biel? Dos japas? Do teu aniversário?
A gente vivia junto. A gente se dava bem. Não desejávamos mal a quase ninguém. A gente ia a luta. E conhecíamos a dor. Considerávamos justas, todas as formas de amor.

Sabe, tinha em você uma irmã, uma pessoa tão admirável, tão bacana, tão inteligente, tão comigo, tão descolada!

Mas alguma coisa mudou...
E assim como você chegou sem esperar, também se foi...

Eu pedia conselhos sobre a vida e você me dava, mas eu ainda não tinha maturidade pra os seguir.
Você esperava de mim algumas atitudes que eu sabia que estavam certas na teoria, mas que na prática, eu não conseguia fazer. Você exigia de mim, comportamentos que eu ainda, simplesmente, não podia corresponder. 

Aí você se encheu.
Acho que começou a me achar, como você disse,  infantil.
Descobriu o quanto eu posso ser insegura, medrosa e errada.
Você não falou isso, mas acho que comecei a te fazer mal, porque de repente, você preferiu se afastar. De repente, todo o bem que a gente já tinha vivido, não te valia mais a pena.

Sabe a impressão que eu tenho? Que você desistiu de mim! Desistiu de pensar que eu podia ir pra frente, e e enfrentar meus problemas como eles deviam ser enfrentados. Você disse que não queria ficar do meu lado, pra ver me sofrer e fazer merda, mas estando longe, não poderá ver também as lições que eu já aprendi. Acho que ia ficar orgulhosa, pois foram algumas...e tem outras em andamento!

Sinto muito sua falta!
Queria que tudo fosse como já foi!

Queria poder ter feito as coisas de forma diferente na época. Queria poder ter estado no mesmo tempo que o teu. Mas me perdoo por não ter conseguido reagir de outra forma, afinal eu não estava pronta. Eu estava dentro de um casulo, ainda sem poder me transformar em borboleta. Estava me preparando. Estava no meu tempo de aprendizado. Estava me desenvolvendo. Você não teve muita paciência, mas eu não podia simplesmente, sair do casulo sem asas.

Saiba também que se fosse o contrário, eu não faria o que você fez. Não com você!
Acho que eu ia te dar uns tapas na cara até você aprender, e estaria do teu lado, pra te dar uma mão e com a outra apontar o dedo na tua cara e dizer, EU TE AVISEI! Incansavelmente! Até porque acredito no teu potencial de ser cada vez melhor e não entendo teu comportamento, porque disso tbm tenho certeza que é uma característica minha. De não querer errar, de querer acertar. Só que as vezes sozinha é difícil, e aí que entram os amigo.

Apesar de tudo, obrigada por ter aparecido na minha vida! Você me ajudou muito, deixou meu ano que foi tão difícil, mais colorido, com seu jeito de ser! Nunca vou esquecer que na época mais sombria da minha vida, pude contar com você e com as vibes boas que você tinha. Mas vou te respeitar! Se prefere assim, se não acha mais interessante compartilhar um pouco da tua vida comigo, não exigirei isso de você. E deixo você ir, e seguir teu caminho, como achar que seja melhor, mesmo que não me inclua! E eu ficarei de longe, torcendo por você e por tuas conquistas do mesmo jeito!

Durou pouco tempo. Nem um ano!
Igual meu casamento!


Fernando Pessoa tinha toda razão quando disse que "O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem."
E pra mim foi assim! Intenso e verdadeiro! Uma amizade que me fazia agradecer a Deus, por ter me separado, pois, de outra forma, talvez nunca tivesse te conhecido. Não sei se pra você foi a mesma coisa, mas não me importa, e baixo minha guarda pra dizer que você foi, e é muito importante pra mim! E que se um dia, sentir minha falta e quiser me procurar, meu dia nasceria mais feliz!

Uma aula de vôlei sem quorum e eu te chamando de gorda, sem querer!


Assim me lembro de você!

Com carinho,

da tua amiga,

Bárbara

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