terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

personagens...

Era mais um dia comum.
Eu havia acordado atrasada, saído correndo, pegado o maior trânsito.
Cheguei ao trabalho, liguei o computador e entrei no site da Uol, como faço diariamente, confesso, para passar o olho nas manchetes e ler a previsão astrológica reservada aos nativos de câncer para aquele dia.

Havia uma chamada de entrevista com a Emma Watson, que é a atriz que interpretou a Hermione na saga Harry Potter. Fiquei curiosa e antes do zodíaco, fiz uma parada nessa reportagem.

Emma contava que a vida não foi fácil dos seus 9 aos 21 anos de idade, período total de 12 longos anos em que trabalhou nos filmes. Ela dizia que via os seus amigos crescendo normalmente e criando a própria identidade e personalidade, enquanto ela crescia também, mas precisava viver, representar, focar e dar tudo de si em uma personagem, Hermione, e que pouco sabia quem era ela mesma.

Sabe Emma,

Ao ler sua entrevista não puder deixar de me identificar e achar que eu sinto uma sensação parecida com a sua.

É como se eu também tivesse passado os últimos 11 anos representando um mesmo papel. Dava vida a uma personagem que atuava em companhia de outro personagem, tipo sei lá: Batman e Robin, Patati e Patatá, Debi e Lóide, Shrek e Fiona, o Gordo e o Magro, Zorro e Tonto... Bárbara e Kauê.

E aí, de repente, depois de todo esse tempo, fui obrigada a atuar sozinha, assim, sem aviso prévio, sem ensaios, tudo no improviso.

Fiquei perdida! Já não sabia mais nem se eu era meio das trevas como o Batman ou colorida como Robin. Seria melhor sorrir e me vestir de Patatí, ou cantar e vestir o Patatá? Eu estava Debi, sem dúvidas,  mas porque não também não Loide? Combinava mais comigo o ogro  Shrek ou a princesa Fiona?  Eu estava um pouco Gorda, mas emagreci a olhos vistos nesse período, afinal, eu era Gordo ou Magro? Tinha tirado força que nem sabia que eu tinha, tava herói, tipo Zorro, mas também estava Tonta. Que eu era Bárbara, ok, isso era fato! Mas e o complemento que parecia meu segundo nome, (Kauê) já não fazia mais parte das minhas cenas.

Não sabia mais qual personagem usar, e mesmo quando eu tentava escolher um, todos eles pareciam  completamente sem graça e sem sentido sem sua dupla. Eu não sabia ser sozinha!

Passado um tempo com tantas dúvidas, aprendi então (não sem dor), que talvez tivesse que ficar assim, sem personagem nenhum!

Deixar ser apenas, a Bárbara, como ela é.
Nua.

Mas quem era eu sem personagens e máscaras afinal? Quem era a Emma Watson sem ser a Hermione afinal?

Quando eu tinha 15 anos e era adolescente solteira, tinha alguns planos, sonhos, ideias: entrar no exército, ser professora, ser escritora, ser mãe de 3 (sendo um adotivo), veterinária, baterista, skatista, cuidadora de animais abandonados, surfista.

E aí eu comecei a namorar, e muitos planos foram naturalmente mudando. Dali pra frente eu iria querer: casar, comprar uma casa, ser mãe, ser escritora, ser professora, ser fonoaudióloga, viajar.

E aí eu me separei, e me sinto como se eu tivesse voltado pros meu 15 anos: quando a gente olha pro mundo, e tudo pode ser uma possibilidade.

Na verdade quase tudo: Eu não posso mais entrar no exército, mas agora jogo vôlei e futebol. Eu não vou mais ser baterista, mas agora toco violão. Eu ainda posso ser professora, eu ainda posso ser escritora e sou fonoaudióloga. Eu ainda posso ser mãe. Eu não posso ser veterinária, mas cuido de 2 gatos. Eu voltei pra casa dos meus pais, mas ainda posso comprar a minha casa. Eu não sou cuidadora de animais abandonados, mas contribuo, infelizmente, quando dá e quando eu lembro,  pra uma ONG que faz isso. Eu não posso surfar, sequer mergulhar. Mas posso enxergar, caminhar e abraçar uma árvore.

Eu acho que as coisas que descobri sobre mim nesse 1 ano e 4 meses sozinha,  ainda são poucas.
Mas sei também que de um total de 16 meses sozinha, 09 foram apenas sobrevivendo.
Nasci de novo há 07 meses. Cresceram dentes há pouco e talvez já esteja querendo comer rapadura e quebra queixo. Ufa! espero que a tendência astrológica para hoje seja algo sobre conseguir manter a serenidade e a tranquilidade.
As respostas vão aparecer...
Aos poucos vou saber quem eu sou também, Emma.

Ou...talvez não saber quem sou, seja uma parte de mim.

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